Parque Ibirapuera (16/06/2016) - Arquivo pessoal |
Essas ideias, teorias, conclusões e memórias faziam a minha mente, que desde sempre era hiperfuncionante, beirar quase um colapso. Então para organizar meus objetivos e metas de vida, escoava esse grande volume de pensamentos e planos em textos particulares, já que ideia de escrever um blog não me agradava no início pois achava que esse meio de comunicação era obsoleto. Escrevia a mão em cadernos - adoro esse tipo de escrita - ou no próprio Word, no entanto um amigo me chamou a atenção para algo muito óbvio: textos escritos e não lidos são um desperdício de imaginação e fogem completamente do princípio fundamental da existência de uma palavra, de ser lida ou ouvida e sobretudo interpretada/assimilada. Os meus grandes desafios eram, ultrapassar o grande pré conceito que formei sobre a minha própria capacidade de criação, e passar a acreditar que a minha história poderia ser interessante ao público, só que não precisei me esforçar muito para deixar de me subestimar, o destino se encarregou de fazer essa transformação em mim de forma bem rápida.
Dia 16/06/2017, uma linda sexta-feira de um feriado prolongado, praticamente o aniversário de um ano - 17/06/2016 - do dia em que fui ao Mastologista para investigar o nódulo recém descoberto, resolvi correr no parque Ibirapuera, aqui em São Paulo, apesar de não ser o local que costumo treinar normalmente. (Ainda não tenho nenhuma teoria definida sobre as coincidências que aconteceram na minha vida, mas vou escrever um texto para contar todas elas e o que sinto quando acontecem). No meio da corrida eu comecei a me sentir mal e não era nada físico, era algo que eu referi como "um vazio" e "uma angústia", e decidi sentar à beira do lago para entender aquelas sensações. Esse é um costume que adquiri depois do câncer, sempre que sinto algo que não posso explicar, eu paro tudo que estou fazendo para olhar lá dentro do meu coração e decifrar o motivo e a solução. Fiquei quieta, escutando uma linda música de fundo que orquestrava suavemente os últimos acontecimentos da minha vida, como se fosse uma cena de filme. Algumas lágrimas transbordaram sem nenhuma causa aparente, vazaram dos meus olhos como se fosse o único fluxo que pudessem seguir e eu aceitei. Meu marido perguntou se eu estava triste e sinceramente eu disse que não - nem todos podem compreender que o choro não é sinônimo de algo ruim ou doloroso - na verdade eu estava reflexiva. Ficamos ali juntos de mãos dadas, apreciando cada segundo daquele momento até a mente esvaziar, e então decidimos voltar para casa.
Acho que não vou conseguir esquecer nessa vida o medo que senti quando olhei para o lado e vi aquele carro vindo rapidamente na nossa direção e nem o barulho estrondoso do carro batendo no nosso. Eu só consegui pensar: Não acredito que depois de tudo isso, é assim que tudo acaba! Fiquei esperando para ver como era o momento da morte mas ele não chegava, e quando o carro capotou eu segurei minha cabeça pensando que poderia evitar alguma lesão na medula se eu não morresse, e aguardei. Quando o carro parou e percebi que ficaria viva, comecei a gritar perguntando se meu marido estava vivo e a sensação mais gratificante do mundo envolveu o meu coração, quando ele respondeu que estava tudo bem - agora sim sentia alívio por ter sobrevivido. Depois do choque e enquanto precisava ficar imóvel esperando o serviço de Emergência, fiquei ali deitada no capô - o carro parou de rodas para cima - chorando e pensando, até concluir que depois de tudo isso é para eu estar viva, que nesse momento o meu lugar é nesse mundo e ponto.
E por que estou contando essa história?
Porque depois de pensar em dois momentos que eu poderia morrer e que todas as palavras que escrevi poderiam morrer comigo, sem ao menos terem sido lidas por uma pessoa sequer, eu resolvi criar esse blog e compartilhar minha jornada a quem se interessar, com direito a todos os anseios, angústias, dúvidas, medos e erros que permeiam a vida real.
Sejam bem vindos a minha vida de paciente oncológica, que busca transcender o que chamam de sobrevida para uma vida plena, intensa e feliz.
Uauuuu menina, sem palavras! Apenas continue escrevendo!
ResponderExcluirBoas vibrações bj
Te acompanho no insta; vou adorar ler seu blog. Tamo junto na mesma batalha de paciente oncologica.
ResponderExcluirMeu nome é Aline e sou paciente oncológica e te achei no instagram e sempre te admirei e vibro cada vitoria sua ....escreva mais pois é muito bom ler seus posts .....que deus quiser você vai superar tudo isso viu ...bjs
ResponderExcluirMeu nome é Aline e sou paciente oncológica e te achei no instagram e sempre te admirei e vibro cada vitoria sua ....escreva mais pois é muito bom ler seus posts .....que deus quiser você vai superar tudo isso viu ...bjs
ResponderExcluirSou paciente oncologica e ja te acompanho no Instagram. ... obrigada por compartilhar sua vida.... acredite, vc está ajudando demais muita gente e eu me incluo na lista. Força foco e fé! !! Que Deus te proteja sempre! Que a cirurgia seja mais um sucesso na sua vida! Obrigada
ResponderExcluirQue Deus a abençoe grandemente.
ResponderExcluirQue Deus a abençoe grandemente.
ResponderExcluirAmei te ler aqui.......escreve de forma super envolvente, distribua todas suas palavras, seu amigo tinha toda a razão quando te incentivou a publicar. 😘
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